Chegado ao século XIX, Portugal ainda não se tinha aventurado pelas artes da produção de porcelana, pelo que provinham maioritariamente da China os artigos deste material que existiam no Reino.
A situação iria mudar a partir de 1816. Com efeito, 4 anos depois de ter adquirido a Quinta da Eremida sita nos arredores de Ílhavo, José Ferreira Pinto Basto (1774-1839), inspirado pelo sucesso da Fábrica de Vidro da Marinha Grande (com forte influência inglesa e preocupação com o bem estar laboral) adquire em 1816 a capela da Vista Alegre bem como os terrenos adjacentes. O local não foi de escolha aleatória, uma vez que permitia o acesso directo à ria de Aveiro e ao seu porto comercial, bem como se encontrava junto às matas da Gafanha, cuja madeira serviria para alimentar os fornos da Fábrica.
Em 1824, apresenta junto do Rei D. João VI uma petição para ali instalar uma fábrica de porcelana, louça e vidraria tendo, em 1 de Julho do mesmo ano, conseguido a respectiva autorização régia. Em 1829, a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre conseguiu o título de Real Fábrica.
Dado o desconhecimento da existência do caulino para a composição da porcelana, os primeiros trabalhos da Fábrica foram dedicados, até 1880, à produção de requintados e sofisticados artigos de vidraria (e de pó de pedra). Entretanto, o filho de José Ferreira Pinto Basto, Augusto Ferreira Pinto Basto (1807-1902), visitou a Manufactura de Sèvres, onde estudou as artes da porcelana e adquiriu os conhecimentos necessários para fazer uso, em 1832, dos jazigos de caulino do Vale Rico (Concelho da Feira) descobertos pelo funcionário da fábrica, Luís Pereira Capote. A partir desse ano, a Fábrica da Vista Alegre iniciou a produção de artigos de porcelana que foi consecutivamente aperfeiçoando graças à contribuição e contratação de mestres estrangeiros, entre os quais Victor Rousseau (1865-1954), com mestria na arte do ouro branco o que lhe permitiu a formação de um quadro laboral especializado.
Há, contudo, notícia de que a Infanta D. Isabel Maria terá sido presenteada com uma chávena e respetivo pires, que exibia uma inscrição com o ano de 1827, ou seja, antes da descoberta dos jazigos de caulino em Portugal. Essa inscrição corresponde à expressão “Fabre Lusitano pinxit“, referindo-se, desta forma, ao pintor João Maria Fabre (contratado por José Ferreira Pinto Basto em 1826 e falecido três anos depois), o que indica tratar-se, com efeito, de peças pelo menos pintadas na Fábrica da Vista Alegre sendo, consequentemente, as primeiras a ser «produzidas» em Portugal.
Com a participação em certames internacionais (em 1851, em Londres e em 1867, em Paris) a Fábrica da Vista Alegre foi adquirindo prestígio internacional, passando também a fornecer a Casa Real Portuguesa e a integrar o quotidiano das famílias abastadas portuguesas, sendo mesmo referenciada em algumas obras da época, de que o «Primo Bazílio» de Eça de Queiróz, é exemplo.
Não obstante a sofisticação das suas produções, a Fábrica não ficou imune ao período político conturbado da transição para o século XX. No entanto, em 1924, João Theodoro Ferreira Pinto Basto (1870-1953) assume a Administração da Fábrica e fomenta alterações industriais e de conceito (com a adopção do estilo Art Deco), que permitiram perceber que a Fábrica era adaptável aos novos conceitos decorativos da época; para esse sucesso, muito contribuiu a intervenção de artistas nacionais, tais como Roque Gameiro, Raul Lino, Leitão de Barros, Delfim Maia, entre outros.
Desde então, as contínuas reestruturações e aperfeiçoamentos, permitiram à Fábrica da Vista Alegre manter-se no mesmo patamar de prestígio das congéneres europeias, participando em eventos nacionais e internacionais que optimizaram a sua internacionalização.
Observação: na imagem de destaque, José Ferreira Pinto Basto.
Curiosidades!!!